Entrevistas

Entrevista Emílio Domingos, diretor de Black Rio! Black Power!


Diretor, roteirista e produtor, antropólogo, pesquisador, Emílio Domingos é o realizador do documentário Black Rio! Black Power!, o grande vencedor da Mostra Longas desta 28ª edição do Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul - FAM 2024 pelo Júri Oficial.

 

Membro da Academia Brasileira de Cinema e da Academy of Motion Picture, Arts and Sciences, que indica os filmes ao Oscar, é cientista social e professor de Estudos de Mídia na PUC-RJ. Já realizou seis longas-metragens, 14 curtas e videoclipes. Os longas mais recentes são sobre os bailes de soul music, espaços de afirmação e resistência política da juventude negra na década de 1970, Chic Show se passa em São Paulo e Black Rio! Black Power! no Rio de Janeiro. O filme está em cartaz pela terceira semana em cinemas do país e acompanha a trajetória de Dom Filó e da equipe de som Soul Grand Prix.

 

FAM - Como se sente por ter ganho o prêmio principal do FAM e de estar ocupando, com um documentário, as salas comerciais de cinema? 

Emílio Domingos - Gostaria de ter ido na sessão no FAM, de ver a reação das pessoas, são dez anos para fazer esse filme, fico muito feliz com o prêmio num festival que é do Mercosul. Confesso que foi uma surpresa, porque não criei expectativa em relação à premiação. E o filme está em cartaz nos cinemas, então ganhar esse prêmio no FAM foi muito bom para trazer público também.

 

O filme chegou a 30 salas comerciais no Brasil inteiro, em várias cidades, em cinemas na periferia, em shoppings. A gente extrapolou várias barreiras com muito esforço, tem sido bonito. Existe uma rede orgânica de pessoas que assistiram e têm ajudado na propagação. As pessoas têm tido reações emocionadas, isso me alegra porque tem muito dessa alegria no filme. 

 

FAM - Black Rio foi além de um baile, um movimento, pode falar mais sobre a influência para a cultura negra?

Emílio Domingos - O movimento Black Rio foi um fenômeno cultural muito importante e que sofreu um processo grande de apagamento, sofreu várias violências da mídia, da ditadura, de apagamento do mercado fonográfico. O filme conecta as pessoas com a grandeza desse fenômeno. Tenho percebido é que as pessoas ficam muito surpresas com a existência dessa história e de como não conheciam. 

 

Havia uma vontade de se expressar que estava guardada por 50 anos por parte das pessoas que estão no documentário. E o filme serve como veículo para dar a real dimensão também da importância do Black Rio para a sociedade brasileira, para a história do negro no Brasil. E mostrar o quanto eles influenciam a cultura e o comportamento de outras gerações. Do quanto o Black Rio está vivo hoje em dia e como ele é importante para que diversas manifestações existissem, seja na cultura atual dos bailes, no comportamento, na autoestima e nas conquistas recentes do movimento negro, como a política de cotas. A gente é um país muito racista, mas a luta é diária e eles naquela época plantaram muito. 

 

FAM - Como você chegou na história desse filme? 

Emílio Domingos - Sou da juventude negra de periferia e tenho um interesse muito grande por essa cultura musical, o samba, o funk, o hip hop. Fui convidado pelo Museu da Imagem e do Som do Rio para fazer uma pesquisa sobre os 50 anos da história dos bailes de soul no Rio de Janeiro, que são pioneiros, que geraram os bailes funk.

 

Havia uma lacuna grande em relação a esse período, pouco material de arquivo. Pensei em construir um filme que contasse essa história, que também pudesse servir como documento. A partir dessas histórias reais, de uma pesquisa quase arqueológica de arquivo, de imagem, a gente conseguiu reconstruir a história do Black Rio, a partir da trajetória desse importante personagem, o Dom Filó e a equipe de soul dele, a Soul Grand Prix. E ele foi fundamental na construção do filme.

 

Eu estava correndo contra o tempo, são pessoas que já estão com mais de 70 anos em média. Durante a pandemia perdemos três pessoas que fariam parte do filme, eu tinha uma urgência para acabar, é um assunto que já tinha 50 anos e que ainda é muito vibrante. Fiz também um outro filme, Chic Show, que é o equivalente ao Soul Grand Prix, era uma outra equipe, só que de São Paulo. Um grande evento em São Paulo recentemente comemorou os 50 anos desse movimento, no Estádio do Palmeiras, com a cantora Lauryn Hill e cerca de 40 mil pessoas, um grande encontro de várias gerações. E eu fico feliz porque é inevitável o papel do filme nisso, nessa revalorização dessas pessoas que são tão fundamentais para a história cultural brasileira.

 

O  28º Florianópolis Audiovisual Mercosul – FAM 2024 foi um projeto cultural produzido através da lei de incentivo à cultura e por meio do Programa de Incentivo à Cultura - PIC, do Governo do Estado de Santa Catarina aprovado pela Fundac?a?o Catarinense de Cultura. Teve o apoio da  Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes através do Programa de Fomento ao Audiovisual, edital 2023 e do Prêmio Catarinense de Cinema, edição especial Lei Paulo Gustavo, Fundação Catarinense de Cultura, Governo do Estado de Santa Catarina. Teve o incentivo do Grupo Krona. Patrocínio ANCINE -  Agência Nacional do Cinema, Itaú Unibanco e Sebrae. Realização Associação Cultural Panvision, Muringa Produções Audiovisuais, Ministério da Cultura, Governo Federal, União e Reconstrução.

 



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